domingo, 23 de março de 2008

A pás coa

Abro a janela: uma inundação de luz me cega por um instante. O muro branco reflete demais. Reflexões em branco. Só a claridade. Só, na claridade. Paz? Não sei. A paz ecoa. Escoa pelos cantos. Os velhos cantos que cantamos juntos. Os novelhos encantos a se desvendar. Vendaval de luzes rebeldes. Sol a pino. Lá no alto. E hoje é dia de transformação. Passagem. E qual dia não é? Mas hoje tem ovo. Novidade. Ovidade prenhe. Abro o ovo e vejo o vazio. Ovazio. Paredes saborosas que dão forma ao vazio. Digerir as paredes desfaz o vazio. O limite do vazio. Sem limites, o vazio se perde na imensidão do mundo. Atmosfera. Esfera. Por que o ovo não é esférico? A esfera é muito árida pra gerar indivíduos. O oval faz poder pensar em canto. A esfera não tem canto. A vida precisa de cantos prá se alojar. E de líquido. Mas a gema do ovo é esférica: amarelo nutriz.
O pintinho quebra a casca e pia. O piar cuja intensidade é diretamente proporcional à distancia da mãe. Mas o pintinho é que quebra o ovo. E dá seu primeiro piar de vida. O ovo de páscoa não vem da ave. Vem do coelho. Que vem da cartola. Na mágica dos símbolos, ilusão é a lei. Asas ao espírito, que voa em busca da alma. A alma é como a música. Reverbera pelo ar. Revoar. Harmonia dissonante: nossos tempos.
Meu tempo. Que é? Só. No contratempo, entra a bateria, coração ritmado assentado no abdómem, no meio da arborecência pulmorar. O coração também é um ovo, que pulsa. Coração transforma? Não, ele pulsa. Quem transforma são as unidades mínimas aglomeradas aos milhões. Milhões de ovinhos vivendo, transformando-se. E juntos rescuscitam nossa morte de cada dia. A tendência ao zero: 0. Outro ovo. Chocando o zero o que que nasce? 1? Acaso: a distância de zero a um.
Meus olhos se acomodam à claridade. Meu coração não. Resta o ovo do acaso a ser chocado. "..suplica um aconchego...Vermelho..." Suscita calor humano. Ressucita humanidade.

Um comentário:

Renato Tardivo disse...

jogo de palavras sabor chocolate!

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