segunda-feira, 31 de março de 2008

Divagar é preciso

Se Pessoa eu fosse
Se em Lisboa eu vivesse
Se visse o Tejo a desaguar no mar

Saberia que viver não é preciso.

Se Veloso eu fosse
Se na Bahia tivesse nascido
Ao calor do sol e mar

Cantaria Pessoa em mole melodia.

Sou Marra,
Sou de Minas
Mar de Morros

Canto devagar desconfiada de que
tempo é preciso viver.

domingo, 23 de março de 2008

A pás coa

Abro a janela: uma inundação de luz me cega por um instante. O muro branco reflete demais. Reflexões em branco. Só a claridade. Só, na claridade. Paz? Não sei. A paz ecoa. Escoa pelos cantos. Os velhos cantos que cantamos juntos. Os novelhos encantos a se desvendar. Vendaval de luzes rebeldes. Sol a pino. Lá no alto. E hoje é dia de transformação. Passagem. E qual dia não é? Mas hoje tem ovo. Novidade. Ovidade prenhe. Abro o ovo e vejo o vazio. Ovazio. Paredes saborosas que dão forma ao vazio. Digerir as paredes desfaz o vazio. O limite do vazio. Sem limites, o vazio se perde na imensidão do mundo. Atmosfera. Esfera. Por que o ovo não é esférico? A esfera é muito árida pra gerar indivíduos. O oval faz poder pensar em canto. A esfera não tem canto. A vida precisa de cantos prá se alojar. E de líquido. Mas a gema do ovo é esférica: amarelo nutriz.
O pintinho quebra a casca e pia. O piar cuja intensidade é diretamente proporcional à distancia da mãe. Mas o pintinho é que quebra o ovo. E dá seu primeiro piar de vida. O ovo de páscoa não vem da ave. Vem do coelho. Que vem da cartola. Na mágica dos símbolos, ilusão é a lei. Asas ao espírito, que voa em busca da alma. A alma é como a música. Reverbera pelo ar. Revoar. Harmonia dissonante: nossos tempos.
Meu tempo. Que é? Só. No contratempo, entra a bateria, coração ritmado assentado no abdómem, no meio da arborecência pulmorar. O coração também é um ovo, que pulsa. Coração transforma? Não, ele pulsa. Quem transforma são as unidades mínimas aglomeradas aos milhões. Milhões de ovinhos vivendo, transformando-se. E juntos rescuscitam nossa morte de cada dia. A tendência ao zero: 0. Outro ovo. Chocando o zero o que que nasce? 1? Acaso: a distância de zero a um.
Meus olhos se acomodam à claridade. Meu coração não. Resta o ovo do acaso a ser chocado. "..suplica um aconchego...Vermelho..." Suscita calor humano. Ressucita humanidade.

domingo, 16 de março de 2008

variações sobre o mesmo tema

A garoa fina se faz chuva forte. E depois de tomar muita chuva, a gripe melhora, contrariando os avisos da vovó. A chuva lavou minha alma. A chuva levou minhas lágrimas achando que eram suas gotas! As mil lágrimas mudas caíram ao chão ressoando chuva, barulho de chuva, música de chuva. Pingos. As lágrimas caíram pelos cantos por aí. Os cantos ressoaram, ecoaram, e as lágrimas, disfarçadas em chuva, encontraram um riozinho. E, adivinha prá onde o riozinho corre?

sábado, 8 de março de 2008

Mulheridade

Das entranhas do ser, nasce o mundo. O mundo pare a mulher. A mulher pare o homem. O homem fez a humanidade. Neogênese da história. Quem vai parar o homem?

A vida

Se você observar bem, vai ver... Olhando através da malha de desentendidos das histórias, vai ver... Deixando as lágrimas correr assim, sem leito... Olhando prá trás, tentando achar o fio condutor... Olhando ao redor e se deparando com tanta gente, gente de todos os cantos, como você, como eu... Olhando bem no fundo dos olhos, ou no raso das mãos... Ouvindo o que é dito, sem pretender as palavras, sem se prender no que elas possam estar dizendo, ouvindo apenas o fundo a partir de onde elas brotam...Conseguindo sobreviver à emoção de um flagrante de vida, nos olhos, no olfato, no êxtase, na visão do mundo inteiro a crescer... Parando prá ouvir, ou ouvindo e parando um pouco, bem pouco, apenas o suficiente prá saber que seu coração ainda bate... Sempre bate, sempre pulsa e faz o tempo prá você... Inspirando profundamente, permitindo que o vento traga o mundo prá você... Parando de resistir à força que flui nas suas veias... Não mais se importando que tudo isso decole, se seu coração parar de bater, sabendo que o mundo continuará a girar, as luas continuarão a mudar, o mar estará lá...o mar. Do mar à vida, da vida ao mar, peixeando a multidão. Um rosto se esboça, no bocejo do mundo. Apenas isso: rosto, mar, mundo, fundo, fundo, fundo.

Comunicação

Comunicação
Entre Terra e Céu: Chuva

Ondas de Minas

Ondas de Minas
manhã de sábado